Tuesday, March 17, 2015

Encontros

Por vezes perdemo-nos na imensidão incontornável da nossa própria mente. Por vezes perdemo-nos na racionalidade inebriante que ela precipita, como água numa chaleira, para o copo da realidade. Por vezes perdemo-nos no fogo ardente de um coração rasgado, no doce articulado de um poema que não sabemos escutar.

Por vezes perdemo-nos no tempo. Simplesmente perdemo-nos. Por vezes a razão rouba-nos esse tempo. Por vezes a razão rouba-nos esse poema declamado pelo coração.

Ela, a mente, ela, a razão, que nos fazem esconder. Escondermo-nos. Escondemos o tempo, escondemos as palavras, escondemos os sentimentos, escondemos os medos, escondemos os demónios. Do mundo, dos outros, de nós.

Mas eles estão lá. E nós escondemo-nos. Escondemos o olhar, escondemos o som, escondemos a imagem, escondemos a voz. Lá dentro. Algures.

Fugimos, quando colidimos com a parede, assustadora, desse pano que nos envolve e consome. Queremos gritar, mas a boca é muda, queremos correr, mas as pernas não respondem. Resta-nos fechar os olhos com força e esperar que, ao conter esse monstro dentro de nós, pudéssemos impedi-lo de se materializar.

Cada momento que o fazemos, perdemos um pouco de nós, transformamo-nos lentamente nesse fluído corrosivo, que nos corrompe, que nos reduz, que nos esmaga o coração.

Perdidos no remoínho atraiçoador da mente, não vemos, não sentimos, não escutamos a resposta, o caminho, o trilho iluminado e esperançoso que nos acudiria. Infligimos os nossos próprios curativos, procuramos as nossas próprias respostas, nas coisas, nos outros, no mundo, no universo, no tempo. Em tudo menos em nós.

E em nós reside a resposta. Em nós residem as sementes fascinantes dessa reviravolta. Quantos quilómetros teremos percorrido, quantas horas terão passado, quantas golfadas de ar nos terão devolvido o fôlego? Até que, de mente e coração abertos, sintamos o calor e a luz que nos concebe.

Até que, em paz, consigamos mergulhar nas águas exasperantes do medo – não sugá-las ou contorná-las – mas sim apertá-las, confrontá-las, dissecá-las, talvez sermos chicoteados pelas garras amargas, dolorosas e cortantes da verdade... Até que, num grito final estridente e lancinante, purgamos esse veneno do nosso ser – e quem sabe, da nossa essência.

Para ser... para estar...

Para construir, com o coração afagado pelas pétalas desse sorriso terno e imanente, as lágrimas renovadoras da alma, como um rebento primaveril que brota da terra.

E nesse nosso jardim florido, encontrarmo-nos...

Para ser...


 

Sunday, December 21, 2014

Sol Invictus

Hoje, parece-me, foi o dia mais curto do ano.
Há algo neste conceito que me fascina. Há muito tempo que é assim… os solstícios, longe de me fazerem festejar a vitória da luz face à escuridão, ou vice-versa, deixam em mim um sentimento ligeiramente nostálgico, talvez até levemente tristonho.
Mas não é esse o sentimento que me inunda, não é essa a sensação que me preenche, não… em particular, o dia de hoje, o solstício de Inverno, não obstante, acaba sempre por me fazer encontrar uma razão para que se instale um pequeno sorriso na cara. Não sei se será porque, inconscientemente, assumo o lado positivo de nos esperar uma escalada, um voo crescente em direcção aos dias “intermináveis” de Sol, esse maravilhoso Sol…
Mas enquanto me rigozijava com esse pensamento, com a ideia de ver crescer os dias, ganhar luz e energia nas nossas vidas, não se pense que me via perdido perante essa imaterialização, face a essa perspectiva futura. Não, esse não foi o momento…
 
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Apercebi-me de tudo isto, enquanto contemplava o ténue, tímido mas eternamente doce Sol de inverno. Fui para o parque, por entre a azáfama de algumas centenas ou milhares de pessoas que se dirigiam para o estádio para assistir a um jogo de futebol. Sentei-me e limitei-me a apreciar, a respirar o ar de fim de tarde, a clamar como meus aqueles raios de Sol preciosos.
Pensar nos dias que vêm, nas sensações que eles guardam fez-me sorrir, mas foram, na realidade, aqueles raios distantes e amplos, cujo calor contrariava o ar frio de Dezembro, que me fizeram sentir.
E fechar os olhos. Estar vivo… e sorrir…
:)

Tuesday, July 22, 2014

Descobre a criogenia da coisa…

No outro dia estava a fazer umas arrumações em casa e encontrei uma folha de papel com uns rabiscos a lápis. Primeiramente, achei que deveria ser apenas um devaneio experimental qualquer que eu tivesse feito outrora e, por pouco, não o reciclava sem sequer olhar devidamente.

Felizmente, nesse dia estava com paciência e resolvi olhar com mais atenção. Reconheci imediatamente a lista que havia trazido de casa do meu tio, há cerca de 17 anos, quando lá fui passar 15 dias nas férias.

E o que é incrível é que esta lista esteve no meu quarto enquanto vivia com os meus pais e transitou para o escritório quando comecei a viver sozinho. Mas interessante ainda, esta tímida folha de papel sobreviveu ao escritório e ainda foi capaz de viajar para o novo escritório quando mudei de casa. Não me perguntem como é que isso acontece, porque eu não sei explicar…

Olhei para o que tinha rabiscado há quase duas décadas atrás:

“Rainbow Six” – Tom Clancy

“A perfect spy” – John Le Carré

“Wild swans” – Jung Chang

“Le nom de la Rose” – Umberto Eco

“A small town in Germany”, “Call for the dead”, “The honorable schoolboy”, “Tinker Tailor Soldier spy” – John Le Carré

“Delta de Vénus” – Anais Nin

“O pêndulo de Foucault” – Umberto Eco

“Eva Luna” – Isabel Allende

“Por quem os sinos dobram” – Ernest Hemmingway

“As vinhas da Ira” – John Steinbeck

“China seas” – John Harris

“The night manager” – John Le Carré

“Stamboul Train” – Graham Greene

“Plenilunio” – Antonio Muñoz Molina

Alguns destes livros, ao longo destes anos todos, vim a ler. Infelizmente foram mais os que ficaram por ler, pior, ficaram esquecidos…

Mas das mais variadas origens, aqui e ali, pessoas de quem me aproximei, amigos que conheci, ilustres que entraram na minha vida, muitos me recomendaram muitos livros. Livros que eu deveria ler, nem que fosse num futuro incerto, livros que me acrescentariam algo.

Deixou-me espantado ter aquela lista há tantos anos, onde figuram tantos títulos que são leitura quase obrigatória e relembrar todas as pessoas e todos os momentos em que elas me disseram algo do género: “tens de ler este livro… é muito bom.”

É como se estivesse a dormir durante todo este tempo. Através das pessoas descobri algo que, noutra etapa da minha vida, já me tinha decidido a descobrir. E pelos vistos não o fiz.

Duas décadas… literalmente, a dormir…

 

Saturday, June 21, 2014

The longest day… again

Hoje é o solstício de Verão… :)

Mas é um péssimo dia para estar entalado de trabalho sem perceber como.

É um péssimo dia para ir fazer uma prova para a qual não estamos preparados, sem saber bem o que nos espera, sem sabermos se o que preparámos nos vai falhar quando for mais preciso…

É um péssimo dia para querermos exprimir-nos no teclado, seja do computador, seja do piano.

É um péssimo dia para recordarmos e sentirmos algo que nos deixou uma marca no coração e que ainda nos faz falta…

Mas vou acabar o trabalho que tenho pela frente. E a aventura que me espera vai destruir o meu corpo mas elevar o meu espírito. E este texto vai marcar este dia. E o que me fere a alma e o coração vai ficar embebido e absorvido no meu ser e serei capaz de sorrir porque abraço esse sentimento, porque o guardo para todos nós.

E serei capaz de chegar ao fim do dia, sorrir, respirar fundo e deixar cair uma simples lágrima, pequena e singela, por ti, só por ti… e para ti…

Tuesday, May 13, 2014

Wednesday, January 1, 2014

O ano do cavalo

Se há coisas boas na vida, talvez uma delas seja aquela sensação que se tem quando se faz um startover, quando se recomeça, quando se volta ao início de algo. É como se não houvesse juízos nem pressupostos. Tudo é inocente e puro. E novo.

E em certa medida, tudo parece saber a improviso. E isso é bom, muito bom.

Começo o ano novo com uma sensação de leveza, de perspetivas positivas e com optimismo. Recebo o novo ano de cara lavada, com um sorriso e de braços abertos.

Acredito na energia anímica e contagiante que impele o nosso mundo quando algo se inicia. A força, o ímpeto.

O ano que passou foi, mais ainda do que anterior, um ano de grandes mudanças. Em mim. Por dentro.

Paz, guerra, tormento, solidão, esperança, amor, angústia, lágrimas e sorrisos. Exteriores e interiores. Descobri os sorrisos interiores. Quando aprendemos a sorrir por dentro, para nós próprios mas, principalmente, quando sentimos que esse sorriso vem de dentro, o fazemos por nós e não apenas para nós…

Começo o novo ano com um sorriso e com um abraço.

Mas… começo o novo ano com uma dor, com algo que me quer fazer triste, algo exterior a mim, algo que não me pertence, mas que causa desgosto e que, lentamente, procura espalhar em mim, um veneno inquietante.

Sorrio por cima disso, procuro marginalizar essa noção dolorosa, tento converter e talvez até subverter o aspecto negativo a meu favor…

E no meio desta minha digestão, procuro entender verdadeiramente se aquilo que me rasga a serenidade é algo que possa efectivamente lesar-me.

Cautelosamente, apercebo-me que a resposta talvez seja negativa…

E vejo nesse movimento um foco, um objectivo, um facto, uma realidade, uma abstracção que me aquece, que me alumia.

Três desejos, um sorriso… e um abraço…

Tuesday, December 31, 2013

O Ecoponto que falta…

A pouco e pouco e, quase sem se dar por isso, aproxima-se a hora, o fim, o início…

Nada de trágico, assumo. Aproxima-se o final deste dia, para um outro começar e, com ele, todo um novo ano. 365 novas iterações desse novo dia tal como aquelas outras 365 que para trás ficam.

Toda a cultura, aprendizagem e vivência que temperaram o meu percurso até este ponto singular no tempo configuraram em mim algo que posso descrever ou designar como sendo uma lógica inabalável – ou talvez até mesmo apenas uma crença –, de que tudo o que existe, tudo o que é palpável, tudo o que é mensurável, tudo o que é, teve uma génese – um início, se quisermos, vá – e, eventualmente, terá também um fim. E é aqui que fico verdadeiramente confuso. A questão não se prende unicamente com a palavra “eventualmente” (que eu convenientemente escrevi com estilo itálico), não… na verdade, a minha mente fica muito mais descansada se, por um momento, idealizar que esta nossa percepção suporta-se no princípio que certos itens básicos da realidade como o espaço e o tempo sempre existiram e sempre existirão. Que eles são. Simplesmente. Condição sine qua non.

Há conforto? Sim, há. Porque espaço e o tempo simplesmente estão lá e nós é que preenchemos os vazios, existindo. Mas mais importante do que isso, existimos começando por existir nalgum ponto do tempo e do espaço e cessando de o fazer no mesmo ou noutro ponto distinto.

Há angústia? Pode haver angst, mas ela não é compulsória, pois estas são questões que permeam a nossa existência e, como tal, podemos existir sem nunca sequer nos preocuparmos com a tecitura do espaço e do tempo…

Há dúvida? Talvez. Tempo e espaço transcendentais criam as condições perfeitas para uma existência sem preocupações. Sem devaneios, sem improvisos filosóficos. Mas qualquer desvio relativamente a essas premissas iniciais é susceptível de levantar questões…

No meu caso – deixando agora de parte minha idealização inicial – o conceito de existir simplesmente, sem início nem fim, desafia incondicionalmente tudo aquilo que a minha mente está preparada para aceitar e constitui uma plataforma que a minha percepção simplesmente não tem a capacidade de atingir. Nem aceitar. Não compreende, é intangível. Porque não encontra uma lógica que a alimente. E por isso, tempo e espaço existem, sim. Podem existir. Mas trata-se de uma condição adquirida. A pièce de resistance, aquela que instaura em mim A Dúvida, é o facto de não conseguir conceber ausência de início mas, pelo contrário, ser totalmente capaz de aceitar um ad eternum, um prolongamento indefinido e infinito do espaço e do tempo.

Acho que é por estas razões que se acredita que há-de haver um dia em que o “mundo” acaba… porque, às tantas, tudo parece plausível, mas existir, no início, sim. No fim, não. Às tantas, NADA parece plausível. E é o fim do mundo… :)

Tudo isto para dizer que enquanto o tempo flui e o espaço corre, vivemos a nossa vida, deixamos a vida respirar. Por vezes parece que chegamos lá. Vociferamos: “o tempo passa num instante!…” ou “já?!? Parece que foi ontém…”

Mas depois largamos essa ponta do tecido e voltamos a existir, simplesmente.

E é nestas alturas, em que por convenção existe um reset, existe um recomeçar, tudo isso faz-nos esquecer de existir apenas e olharmos para trás. Não no espaço, de soslaio, por cima do ombro. Mas no tempo, e procuramos percepcionar melhor a sua incomensurável dimensão.

E revemos. O que fizémos, o que não fizémos. O que dissémos,  e aquilo que ficou por dizer. Os caminhos que explorámos e aqueles que ficam por explorar. Portas fechadas que não mais voltamos a abrir. E olhamos para o outro lado e novas portas aparecem, à espera de ser abertas… Receamos fazê-lo, mas fazêmo-lo na mesma… Arrependimento? Todo e mais algum mas, e daí, talvez mesmo nenhum…

E prometemos. Não vou fazer isto. Vou fazer aquilo. Vou começar. Vou acabar.

E desejamos. Porque talvez tenhamos parado para perguntar Porquê?. E algures, num intervalo da nossa “simplesmente existência”, parámos para escutar. Parámos para observar. Parámos para ouvir… o quê? A mente… e o coração, claro… principalmente o coração…

E reflectimos. Ontém, talvez. E hoje.

E rodeamo-nos de pessoas que nos são queridas. Sentimos o seu calor, sentimos os seus risos, sentimos o seu abraço.

Fechamos os olhos ou, talvez, focamo-nos algures naquele ponto do céu, naquela estrela distante e sorrimos.

É um sorriso que não desarma, é um sorriso que contagia, é um sorriso pleno de sentimento, é um sorriso que queremos que perdure!

E finalmente, tudo acaba e começa… com um abraço…

14! :)

Wednesday, December 18, 2013

Agarra a minha mão, sai do buraco

 

Esta peça é fenomenal! Talvez não seja a mais famosa, mas é, por ventura, a minha favorita (embora admita que não conheço extensivamente a obra do Sr. Rach… ;)

Talvez não seja a melhor interpretação de sempre nem a melhor gravação… mas eu gosto da dinâmica e da expressivade que a V. lhe dedica.

 

Úm pouco mais lento, e com uma postura (e atitude) muito diferente… gosto! Obrigado, Olga S.!

Esta peça faz-me pensar em ruptura, em revolta, em renovação, em redefinição. E depois, traz-me, naquela parte intermédia absolutamente magnífica, a paz, o diálogo, a compreensão, docemente boleados…

Esta peça faz-me pensar naquilo que me define. Faz-me pensar naquilo que me completa na vida, faz-me pensar naquilo que faz sentido para mim. Faz-me olhar na direcção certa, faz com que me erga de entre a mágoa que por vezes me afoga, faz-me rodar o pescoço e fitar a peça do puzzle em falta. E dá-me forças para partir, para a agarrar. Para a envolver e abraçar…

Agarro-a, como se fosse minha, tal como este prelúdio…

:)

Tuesday, December 17, 2013

Menos é mais…

Estava aqui há 10 minutos e não havia maneira de conseguir fazer sair uma frase, uma ideia, uma palavra para começar. O problema não é a falta de elementos para colocar aqui… antes pelo contrário, talvez até haja demasiada informação. Apetecia-me escrever sobre muitas coisas, mas não consigo encontrar a forma correcta de arrancar, não consigo combinar as palavras que lhes fariam justiça. Talvez porque me transcendam, talvez porque ainda esteja a tentar captar-lhes o sentido, o motivo, o propósito ou talvez as circunstâncias… e talvez porque neste meu registo, provavelmente quero que as palavras contem a história com as notas certas, com a intensidade adequada, com o timbre perfeito.

Mas não consigo. E por tanto não conseguir, aqui deixei um parágrafo inteiro em que escrevi, depositei esse mar de palavras, acima exposto, intento em exprimir de forma inconsequente o modo como não escrevi sobre o que pretendia expor.

Rasgado, solto, perdido, desmedido. Assim são as palavras contidas que escaparam dos meus dedos. E escondem um pequeno sorriso, uma gargalhada breve e louca.

Desisto. Hoje a mente ganha. Só hoje.

Thursday, December 5, 2013

Saturday, November 23, 2013

Sempre… por perto.

Sempre que fui de viagem para algum lado, a véspera costumava ser um dia relativamente calmo. Nunca fui pessoa de fazer a mala à última, embora verifique que isso se tornou uma prática mais comum em mim. Relembro, por exemplo que por esta altura, no ano passado, tinha ido a Amsterdão e não só fiz a mala a seguir ao jantar, como ainda estive a dar uns retoques no material que ia apresentar na conferência. Resultado: não preguei olho. E não me custou propriamente.

A verdade é que o conceito e a noção de viajar deixa em mim um burburinho, um ruído de fundo, que me dá energia, que me deixa irrequieto, excitado… é a antecipação da viagem. Sempre o senti, mas agora vejo que deixo essa sensação espraiar-se à vontade e ocupar o seu espaço como bem entender… e se nesse processo escapar uma ida à cama… que seja! Afinal, também não deixo lá ninguém à minha espera, pelo que o dano causado é praticamente negligível… :)

Tenho que estar pronto às 6.45. Faltam duas horas. Tenho sono. Tenho que admitir que tenho sono. Mas também tenho electricidade (´”estás eléctrico”, para parafrasear uma pessoa próxima e muito querida que por vezes me observa neste estado super-activo…) que chegue para manter-me acordadíssimo durante muitas horas. Ir para a cama nesta fase preconizaria um risco altíssimo de adormecer e ter grande dificuldade em acordar daqui a umas horas para ir para o aeroporto. Assim, não. Faltam duas horas. Duas horas chegam perfeitamente para ir dar uma corrida ao parque. Porque não?

Fui. :)

Sunday, November 17, 2013

Solaris

Eu sei que já foi ontém, mas parece que a noite não foi suficiente…

E foram 22… por isso, elas precisam do descanso merecido…

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Mas talvez elas não consigam apreciar, como eu, a magia da luz que invade esta sala… maravilhoso… :)

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Saturday, November 9, 2013

A cor da monocromia

Foi em 1996 que esta peça me tocou pela primeira vez.

E eis que, quase 20 anos depois ela retorna, desta vez para ser tocada por mim. Talvez nunca estivesse ausente mas apenas latente, esperando pelo momento certo para que eu desse seguimento a esta minha busca de um dia a conseguir atingir na sua plenitude.

Para lá caminho, embalado pelo seu poder, enebriado pela sua melodia, temperado pelas suas notas inspiradoras…

Dou-te o que posso para que sejas tu, para que eu te complete, para que a minha voz acompanhe o teu solo, e que no teu voo pelo espaço me sussures ao ouvido essa canção que me bloqueia todos os sentidos.

Mas por alguma razão, escapas-me dos dedos, eles falham em tocar-te, em ser a imagem viva da tua essência. Entre vozes de silêncio e claves magestosas eu vou contruíndo a casa que te celebra, vou ornamentando as páginas que te escrevem.

E sei que um dia, por entre formas e gestos singelos e magnânimes, só por si, ecoarão as notas que me permitirão dar corpo à tua luz, e num simples murmúrio, tu e eu seremos apenas um, ambos seremos o que sempre fomos, e apenas o que somos…

Ontém, hoje e para sempre: “Despedida”

 

Thursday, October 24, 2013

O puzzle da vida…

À medida que o novo dia avançava, dei por mim a pensar: “vai dormir, vai dormir…”

Mas senti a vontade de escrever… sem saber exactamente sobre que tema, sem sequer ter um fio condutor… mas senti a necessidade de escrever algo, algo que me deixasse a mente mais serena, o coração mais prudente. Mas não. Continuo tão agitado e irresponsável como sempre… tão incontrolavelmente eléctrico e demoníaco como dou por mim a ser, de tempos a tempos.

Mas não. Por vezes debato-me contra a minha raivosa solitude e, no entanto, aí encontro a minha verdadeira paz… delicio-me na imensidão do meu espaço, do espaço que me permito ter, da bolha pela qual procuro respirar o mundo…

Quero ter todo esse ar que inspiro, quero ver as pessoas que me importam abraçadas ao meu coração, mas tudo o que consigo ver é a outra face da Lua… onde esses pontos fulcrais da minha vida se encontram… na escuridão…

Mil vezes me pergunto porquê, mas as respostas, essas, tardo em tê-las…

Não as encontro em mim, no mundo, nem nas coisas… e se a solução reside nas pessoas, então não consigo avistá-la pois ela está muito bem escamoteada na sequência incontornável da vida…

Quero vê-la aqui, quero sentir o seu toque, o seu calor, enquanto paira sobre mim, bem perto, emanando a sua aura misteriosa… e entretanto vou absorvendo essa essência mágica que me faz sonhar, que me faz olhar para o horizonte e ver mais do que o pôr-do-Sol…

Faz-me ver o sonho, crava-me desespero na pele… mas ainda assim explode em mim a vontade de ser… e ser… e ser…

Ser…

Sou mais que a soma das partes e, no entanto, mais não sou do que parte da soma… completo-me e simultaneamente, aguardo exasperadamente pela peça que me tornará uno, que me fará único, que me deixará completo…

Que me trará a imensidão de um sorriso, a simplicidade de uma lágrima…

… e uma alegria infinita…

Friday, October 18, 2013

Caesium

Sempre tive uma relação estranha com certos números, no sentido em que alguns, por razões que nem sempre permanecem dentro das fronteiras da minha compreensão, exercem sobre mim um certo poder. Provavelmente todo o valor que eu possa atribuir a esse alegado poder deve-se única e exclusivamente ao facto de eu inerentemente lhes permitir esse atributo.

E muitas vezes, não se trata apenas do número em si, mas antes do contexto em que o número aparece. Outras vezes, não é o número que interessa mas sim a conjugação de dígitos.

Recordo-me há uns largos anos de, durante as férias ter acordado vários dias seguidos, olhar para o relógio-despertador e constatar que marcava: 12:34. Não há nada de especial nesta hora, nem neste número, excepto o facto de consistir na sequência dos primeiro quatro números naturais. E contudo, sempre que me deparo com esta hora, sinto uma súbita vontade de marcar o momento, de fotografar o relógio, como se tratasse de um acontecimento único, a imortalizar… Outro que me incute um comportamento semelhante é quando o relógio marca 22:22. Mais do que às 11:11.

Isto talvez pareça absurdo, possivelmente até Ri-dí-cu-lo, mas não deixa de ser um fascínio que tenho. Sempre que o relógio marca uma destas horas, e eu tenho a felicidade de presenciar o momento, sinto que o tempo pára por uns segundos e apetece-me gritar para toda a gente:

“HEY!!!!! Pára tudo! Reparem! É 12.34!!! Não é fantástico?!?”

E consigo imaginar-me a apontar para o relógio e toda a gente a olhar para mim com ar confuso…

“mas o que é que este gajo quer?”

“não sei, mas ele está para ali a esbracejar e a apontar para o relógio…”

Por uns segundos, é mesmo como se o tempo parasse, é como se por aquele período de tempo valesse a pena parar tudo para contemplar aquele evento único, mágico, da natureza…

Primeiro, não é único. Acontece todos os dias, à mesma hora e, dependendo dos relógios e/ou das nossas preferências, até pode acontecer 2 vezes por dia.

Segundo, não é natureza. É, sim, natureza humana. Esta vontade incontrolável de tudo perceber, tudo compreender e de tudo manipular… Não compreendíamos o tempo, a sua continuidade, nem entendíamos como ele se comprime e expande no seu próprio desenvolvimento… então toca a partí-lo em bocados até o tornarmos mais palpável… e depois, inventa-se algo para marcar cada um desses pedaços em que o dividimos…

O tempo flui, suave e inconstante, determinado e incontido, por esse espaço fora, permeando as nossas vidas… ele vem contra nós, trespassa-nos e prossegue o seu caminho, arrastando-nos no processo…

E tal como ele, também as nossas vidas são assim, também elas pairam, deslizam e escorrem pela tecitura do tempo e do espaço. Há apenas um sentido, uma direcção. Talvez ritmos, cadências diferentes.

E se muitas vezes nos parece que o tempo passa a correr ou que se arrasta lentamente, na realidade isso não acontece… o tempo é um bastião de serenidade, de paz, de consistência.

Na verdade, não é o tempo que se dilata ou contrai; a derradeira constatação é que somos nós que vivemos a vida mais rapidamente ou de forma mais lenta…

E se num desses minutos “mágicos” que eu falo – é apenas um minuto – que diferença fará se o tempo parar ou se, em vez disso, pararmos nós? Qual é efectivamente a diferença?

E se durante um minuto o tempo puder parar para mim e eu puder cheirar esse minuto, saborear esse minuto, sorrir esse minuto, contemplar esse minuto por aquilo que é – um minuto de pura luz, um minuto de ar, um minuto de lágrimas, um minuto escutando a sinfonia do silêncio, um minuto na minha companhia, um minuto entrelaçado nos braços do coração…

… então, porque não?

Thursday, October 10, 2013

10-10-10

Cada nota que toco é um mar de significados.

Cada colcheia, um oceano de incertezas.

Cada fusa uma dor que recordo, de cada vez que abro os olhos de manhã… e em toda essa harmonia encontro um fio condutor, encontro uma esquadria que me salva…

Percorro todos os tons, oitava a oitava, em busca daquela nota, aquela que ressoa, aquele Lá certo… e canto com a minha voz tímida enquanto espero ouvir um uníssono.

Silencio-me para te ouvir… para distinguir, entre a multitude de sons que compõem a luz do dia, aquele timbre específico, aquela minúscula canção…

Mas nunca vieste… nunca te encontrei… o grito mudo que entoou fez da palavra, coração.

E assim eu espero, sem fuga ou andamento, embalado pela voz, perdido no som, de sorriso na mão e de lágrima ao vento…

 

Wednesday, July 24, 2013

A banda de Moe:bius

Sinto-me em paz. Não aquela paz que se sentiria no dia em que todas as armas de destruição maciça do mundo fossem destruídas e que, por artes mágicas, fosse sabido que não seria possível nunca, nunca mais, criar outras. No dia em que as pessoas baixassem os braços e largassem as armas e, novamente, os levantassem para, num gesto único, se unirem num abraço colectivo. Que as mãos não mais esmagassem ou destruíssem e que antes criassem símbolos de harmonia e distribuíssem calor e alegria. E poderia continuar eternamente a disparar estes pequenos tiros de perfeição ideológica crónica...

Não. A paz que eu sinto é mais aquela que se sente naquele momento em que ninguém se está a matar, nem a invadir espaços vizinhos, nem a executar os seus planos. Não, neste momento, toda a gente está a ocupar as suas posições estratégicas, a definir as suas tácticas, a planear o que tomar a seguir e quando, e quem vai confrontar e como. Neste momento, toda a gente está espectante, observando os movimentos do adversário, à espera do melhor momento para agir, preocupada em não ser apanhada desprevenida. Nesta fase, qualquer fagulha tem o poder incontestável e incomensurável de despoletar o incêndio à escala global que faz com que aquele que é conhecido como o “Planeta azul” assuma uma cor alaranjada... a cor do fogo quando arde, a cor do inferno quando sobe à Terra.

É este tipo de paz que eu sinto. É saber que estou neste ponto alto, e que para cada lado estão pontos sucessivamente mais baixos onde imperam o conflito, a ansiedade, a angústia, a raiva, a tristeza, a frustração... Que qualquer empurrão me remove desta aparente trégua emocional, desta posição única e deliciosamente periclitante...

A constante noção de desequilíbrio faz-me dar valor a cada nanosegundo que persisto nesta posição ingrata e tortuosamente exigente de manter. Faz-me saborear cada momento sem medo, sem receios, sem remorsos, apenas sinceridade, humildade e um olhar recheado de imprevisibilidade...

Sinto que toda esta alegoria falha em traduzir a plenitude daquilo que é o meu estado de espírito neste momento...

Partindo da noção que tal seria praticamente impossível de acontecer neste nosso mundo, prossigo com as metáforas:

...é como se todas as partes do conflito se sentassem à mesa e abrissem o livro das negociações, onde figuram todas as condições pretendidas, de forma sincera e honesta e onde se inventoria todo o historial, todo o arsenal existente – no fundo, tudo o que justica o facto de se estar nessa mesa, neste momento.

Contudo, talvez seja melhor finalizar as estilísticas por aqui pois a complexidade da mente e vida humanas fazem com que este género de comparações tenham um efeito redutor... é caso para dizer que as semelhanças acabam por aqui...

Vou, talvez, e para finalizar, fazer uma última comparação que, na minha modesta opinião, não falha em fazer jus às vicissitudes da vida...

Existe, por ventura, um paralelismo inigualável entre as pessoas e a beleza complexa e aparentemente intangível da natureza quântica – e dual – da realidade.

Na medida em que quantificar uma determinada grandeza – isto é, analisar e explicar determinadas sensações, comportamentos ou atitudes é algo que não pode ser feito de forma rigorosa. Mais, é algo que não pode ser levado a cabo até ao fim. Porque fazê-lo implica desconstruir, implica escrutinar a natureza de todas essa coisas. E quando chegamos ao fim dessa nossa dissecação, deparamo-nos com os diversos componentes que acabámos de separar mas, todavia, estes deixam de fazer sentido como um todo, perdem o seu significado, perdem a sua energia motriz. É um caso em que o acto de “fazer uma medição”, altera o próprio valor medido. Pior: altera a própria natureza da medição...

E se mentes tão brilhantes como Pauli ou Heisenberg (apenas para homenagear alguns) não espelharam nas suas postulações a complexidade inerente ao ser humano, talvez o tenham feito inadvertidamente ao mostrarem ao mundo a natureza quântica do universo e permitirem-nos observar que ela permea e se faz sentir, de forma tão semelhante, no próprio comportamento humano.

Tuesday, July 23, 2013

Antes

 

Julguei que compreendia, julguei ter entendido.

Julguei observar o lábio e ouvir a palavra,

julguei ver o olhar e ler o pensamento.

Julguei escutar as palavras e deduzir o seu significado.

E em todos esses momentos, rejubilei por entender, por ouvir, por perceber, por conseguir deduzir. E tanto o fiz, que não compreendi, não observei, não vi, nem escutei a reacção a esse meu momento de vitória.

Na candura desta convicção, na simplicidade desta decepção,  lancei-me do topo desta minha montanha de entendimento. Viajei, em queda livre, durante dias.

Durante dias, apenas quis cair, apenas senti o vértigo, apenas tolerei o estômago em protesto. Fez-me ver a verdade, fez-me entender a realidade, a queda.

Achei que compreendia. Cheguei a ter pena de outros, porque achava que eles não entendiam o que era óbvio. O que eu conseguia entender facilmente. Achava que sabia ler, achava que sabia escutar, achava que percebia a intenção.

E se há algo que descobri é que na realidade, quem não sabia, era eu.

Chorei. Gritei. Quis cortar as raízes que me prendiam a essa ilusão, quis rasgar o sonho que me haviam prometido.

Acordei lá em baixo, de costas para o que restava desse trajecto descendente, e de braços abertos. Como que a acolher tudo o que deixei para cima… e aí vi, um céu cor-de-laranja, e uma Lua feiticeira… lá bem no alto…

Distante…

Respiro fundo, e mergulho naquele leve vento ascendente de Verão, sinto a pele a enrugar com o contraste do calor, sinto os pulmões expandirem-se com as labaredas ardentes desse ar…

Não mais acho que compreendo ou que entendo. Mas procuro.

Quero descortinar as notas misteriosas da palavra. e observar o lábio que, tal qual violino ou piano, as produz placidamente.

Quero beber os pensamentos, imaginá-los e vivê-los, por eles e através deles. Atento no olhar, como pintura insondável,  como quadro intemporal.

Dobro o sentido, transcendo o seu significado, escuto apenas a sua forma, sinto meramente o seu toque subtil.

Num ápice, num microsegundo de pura loucura, olho para mim, vejo-me de fora para dentro…

E nisto, saboreio o sorriso que se me desenha no rosto…

Friday, July 19, 2013

Percursos

 

Caminharei em direcção a esse ponto onde o céu toca a terra,
deslizarei ao longo do corpo esguio e sedoso da vida
até que no tempo perdido de outrora, me encontrarei...

por detrás da bruma da verdade me oculto,
de entre as letras da mentira me materializo.

E contudo… é por elas que me revelo,
liberto-me, através de palavras inebriadas...

Que jorram da minha boca como um Mar de Ilusões,
Que irradiam da minha mente como raios de luz...

Para se despenharem contra a muralha da sedução,
a barreira intransponível de outros tempos...
as marcas indeléveis de facas que rasgam a pele,
o coração, os olhos... a alma...

A salvação que eu procuro, o doce gesto que rejuvenesce,
tal qual Fénix renascida das cinzas da perdição,
como as lágrimas salgadas que teimas em não brotar
como o sorriso doce que guardas só para ti...

E se nas teias sedosas da mentira não me transformar em Lua,
quero adormecer profundamente nos braços efémeros da verdade...

Saturday, June 1, 2013

The quartet of Woah!

Há algo em mim, nos últimos tempos, que me deixa perplexo…

Falar em perplexidade talvez transmita uma ideia excessivamente empolgante daquilo que me faz escrever isto…

Antes de mais, devo deixar aqui bem claro que embora fique algo perplexo, vivo perfeitamente com este facto e assumo-o como pertencente ao meu Eu intrínseco…

E neste momento, se estivesse a ler estas letras, eu diria: “Foda-se! Deixa-te de rodeios e vai direito ao assunto!!!!”

Há algo em mim que me faz – e devo acrescentar – inadvertida e esporadicamente, fazer as minhas refeições em casa totalmente fora de horas…

Não há nada de especial nisso. Acontece. Tal como muita boa gente, vivo na minha própria companhia, aturo-me a mim próprio e, como tal, faço os meus próprios horários e sigo o ritmo que se impõe em cada altura.

Mas nunca fui assim. Claro que as condições eram outras, os tempos eram outros… e só isso, é suficiente para que tudo possa ser diferente.

Mas não me queixo. Na realidade, gosto. Muito.

No Domingo passado acabei por ver a final da Taça de Portugal com o Egas, aqui em casa e quando combinámos ao telefone, houve um momento de antecipação, em que fechei os olhos e esperei ouvir uma crítica ou um comentário por serem cinco da tarde e eu ter dito, com uma certa vergonha: “… bom, na realidade, estou a acabar de almoçar… mas vem cá ter…”

Hoje comecei a jantar às 00.15… porquê? não sei responder a essa pergunta…

Saí do trabalho às 22, por causa de uma entrega de um projecto para África…

Assim que me vi cá fora, senti o ar convidativo, vibrante e entusiasmante de sexta-feira… pensei: “preciso de um copo…” esbocei um gesto, como que em busca do meu telefone, mas fiz uma pausa e tentei perceber o que me dizia o corpo… e a verdade é que ele queria paz e sossego… um pouco hesitante, lá aceitei a ideia… “ok, para casa então…”

Fui a pé para casa e, quando finalmente retornei ao meu espaço, quis relaxar um pouco, sincronizar-me um pouco com as redes sociais, ver um pouco de televisão… se havia algo que não me apetecia fazer era meter-me na cozinha… e quando dei por mim, eram 23.30 e lá resolvi começar a fazer o jantar…

E mesmo com o adiantado da hora, tudo foi feito com toda a calma do mundo, como se fossem 7 da tarde…

Felizmente faço a minha receita inventada, uns bifes e umas costeletas temperadas com sal, pimenta, alho, caril, piri-piri, folhas de louro,óleo e gin… confesso que fui preguiçoso… esta receita foi criada para as costeletas, mas acaba por não funcionar mal com os bifes… Não consigo deixar de sorrir, e achar disparatada esta mixórdia de sabores…

Podia deitar-me a esta hora e nem comer… mas não… sem qualquer necessidade, porque não encher o bandulho com 2 bifes e 2 costeletas de porco com arroz de grelos e uma salada de pimentos e pepino? À 1:00 da manhã?

Porquê? Para quê?

Mas por mim, está tudo bem, e vou ficar a giboiar pelo menos mais uma ou duas horas…

Com esta barriga enorme…